Imagem/legenda: Seu Alcir, esposo da Dona Eliane, apenas observa pela janela.

No coração da zona rural de Jaguaribe, no Ceará, Dona Eliane, agricultora de 61 anos, mantém viva uma tradição passada por gerações: o preparo de lambedores naturais. Moradora do Sítio Fuzil, localizado a cerca de 25 quilômetros da cidade, ela utiliza ingredientes como o cupim do mato e o mangará da bananeira, também conhecido como coração da bananeira, para criar xaropes que têm conquistado moradores da região por seus benefícios à saúde.
O lambedor de cupim do mato, uma das especialidades de Dona Eliane, é feito com apenas dois ingredientes: cupim do mato e açúcar. O processo é simples, mas exige paciência. “Primeiro, cozinho bem os cupins, depois coo para garantir que não fique nenhum resíduo”, explica. Após o cozimento, o líquido é misturado ao açúcar e levado ao fogo novamente até adquirir uma consistência melada, transformando-se no lambedor. Popularmente, esse xarope é usado para tratar tosses persistentes e aliviar problemas respiratórios.
Já o lambedor de mangará da bananeira, conhecido também como coração da bananeira devido ao seu formato, é preparado com uma combinação de ingredientes que potencializam suas propriedades medicinais. Além do mangará, a receita leva limão, alho, romã, malva e açúcar. “Fervemos tudo junto até formar o xarope, que é ótimo para gripes e dores de garganta”, conta Dona Eliane. O mangará, além de ser rico em nutrientes, tem propriedades anti-inflamatórias, enquanto o limão e a romã reforçam a imunidade. A malva, por sua vez, contribui com suas propriedades calmantes.
A tradição dos lambedores, transmitida para Dona Eliane por sua mãe e avó, reflete o profundo conhecimento do sertanejo sobre os recursos naturais. “Aqui no sertão, a gente aprende desde cedo a usar o que a terra nos dá. Esses lambedores não são só remédios, são parte da nossa história”, destaca.
Além de preservar esse conhecimento, Dona Eliane é reconhecida por compartilhar suas receitas e saberes com a comunidade local. O Sítio Fuzil é ponto de encontro para quem deseja aprender as técnicas de preparo ou adquirir os xaropes prontos, feitos de forma artesanal e com respeito à natureza.
O resgate dessas práticas não apenas valoriza a cultura nordestina, mas também oferece uma alternativa acessível e sustentável para cuidados com a saúde. Com sua dedicação, Dona Eliane se tornou um exemplo vivo de como a tradição e a simplicidade podem caminhar juntas, mantendo vivas as raízes de sua terra e de seu povo.
Escrita por Antônio Diógenes – RTV Jaguaribe.