Por Antônio Diógenes – 19/09/2025
Advogado usou habeas corpus para não responder a maioria das perguntas e saiu como provável investigado
Imagem: Senado Federal
O advogado Nelson Wilians Fratoni Rodrigues compareceu nesta quinta-feira (18) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, em sessão marcada por tensão e longos embates com parlamentares. Convocado como testemunha no caso das fraudes em descontos indevidos em benefícios previdenciários, Wilians recorreu a um habeas corpus preventivo concedido pelo ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), para permanecer calado diante de perguntas que poderiam incriminá-lo.
Apesar de negar qualquer vínculo com as irregularidades, o relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), afirmou ao fim da oitiva que o advogado passa a ser considerado um “provável investigado”. Segundo Gaspar, o silêncio de Wilians “falou mais alto que suas palavras”.
As suspeitas recaem sobre movimentações financeiras consideradas atípicas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Relatórios apontam que empresas ligadas a Wilians movimentaram cerca de R$ 4,3 bilhões em operações questionadas. Parte dos valores teria conexões com o empresário Maurício Camisotti, preso na Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, por suposta participação em fraudes contra aposentados.
Durante a sessão, Wilians reconheceu conhecer Camisotti desde 2015, em relações inicialmente profissionais, mas negou vínculos societários ou participação em contratos suspeitos. Ele também rejeitou qualquer ligação com Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, apontado como chefe de uma rede de empresas utilizadas para desviar recursos.
Parlamentares de diferentes bancadas pressionaram o depoente sobre temas diversos, incluindo doações eleitorais realizadas entre 2016 e 2022, estimadas em valores de até R$ 10 mil para políticos de vários partidos. Questionado se esperava contrapartidas, Wilians respondeu de forma direta: “Em absoluto”.
A sessão foi marcada por momentos de confronto. O senador Jorge Seif (PL-SC) classificou o silêncio do advogado como “ensurdecedor”, enquanto o deputado Duarte Jr. (PSB-MA) questionou o padrão de vida de Wilians, mencionando imóveis de alto valor, veículos de luxo e até um jardim avaliado em R$ 22 milhões, supostamente adquirido por Camisotti.
Wilians, por sua vez, afirmou respeitar o trabalho das instituições e declarou repudiar os crimes cometidos contra aposentados e pensionistas. “A Polícia Federal cumpre seu papel. Cabe a mim respeitar e acatar”, disse ao ser indagado sobre buscas realizadas em seus escritórios.
O debate ganhou contornos políticos quando a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) apontou diferenças na forma como os governos Lula e Bolsonaro lidaram com denúncias relacionadas a autorizações de descontos (ACTs). Já o senador Rogério Marinho (PL-RN) acusou o governo atual de ter afrouxado a fiscalização, citando o aumento expressivo de reclamações formais de beneficiários.
Ao final da audiência, o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), anunciou que o colegiado pedirá ao STF a revisão de decisões que facultaram o não comparecimento de outros convocados, entre eles o “Careca do INSS” e Camisotti. O objetivo é garantir que os dois sejam ouvidos em sessões futuras.
O caso de Nelson Wilians reforça a percepção de que a CPMI pode avançar para investigar não apenas dirigentes de associações e empresários ligados ao esquema, mas também advogados e consultores suspeitos de participar da engenharia financeira das fraudes. A expectativa é de que novas quebras de sigilo sejam votadas nas próximas semanas para aprofundar as apurações.