Em nova declaração, ex-presidente americano chama condenações no Brasil de ‘caça às bruxas’ e reforça apoio público a Jair Bolsonaro, aprofundando crise diplomática entre os dois países.
Por Antônio Diógenes – 15 de julho de 2025
Washington (EUA) e Brasília (DF) – O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a criticar duramente o sistema judiciário brasileiro e declarou, nesta terça-feira (15), que o ex-presidente Jair Bolsonaro está sendo vítima de uma “caça às bruxas política”, em referência ao julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os atos de 8 de janeiro de 2023. A declaração, feita durante um comício na Flórida, foi transmitida ao vivo e repercutiu fortemente nos meios diplomáticos e na imprensa internacional.
“Bolsonaro é um bom homem, patriota de verdade. Estão tentando acabar com ele como tentaram fazer comigo. É vergonhoso o que estão fazendo no Brasil. É uma perseguição política disfarçada de justiça”, disse Trump diante de uma multidão.
A declaração reacende tensões já inflamadas entre Washington e Brasília. Desde o início do mês, os Estados Unidos anunciaram novas tarifas comerciais de até 50% sobre produtos brasileiros, uma medida classificada pelo Itamaraty como “retaliação política disfarçada de política comercial”. O governo brasileiro, por sua vez, respondeu com a publicação, nesta mesma data, do decreto que regulamenta a Lei de Reciprocidade Comercial, autorizando o Brasil a adotar medidas contra países que desrespeitem acordos bilaterais ou multilaterais.
Governo brasileiro reage
A fala de Trump foi considerada “grave” por integrantes do Ministério das Relações Exteriores. Em nota curta, o Palácio do Itamaraty reiterou que “não há espaço para ingerência internacional em processos judiciais internos” e reafirmou que o Brasil é um Estado democrático de direito, com plena independência entre os Poderes.
Fontes da Advocacia-Geral da União (AGU) confirmaram que estão preparando uma comunicação oficial para apresentar à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Organização Mundial do Comércio (OMC), alegando interferência indevida de autoridades estrangeiras em assuntos internos do país.
Aprofundamento da crise
O episódio marca um novo capítulo na crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos, que se intensificou após o avanço do julgamento contra Bolsonaro e a repercussão internacional sobre a atuação do STF.
Analistas políticos ouvidos por veículos como o The Washington Post e o Le Monde já apontavam que Trump poderia explorar o caso Bolsonaro para reforçar sua narrativa de “perseguição política global contra conservadores”, sobretudo em ano pré-eleitoral nos EUA.
Articulação no Congresso
Enquanto isso, no Congresso Nacional, senadores governistas e da oposição demonstraram preocupação com os impactos econômicos da tensão. Uma comissão mista foi formada para acompanhar os desdobramentos da Lei de Reciprocidade e as possíveis sanções comerciais.
A senadora Simone Tebet (MDB‑MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores, afirmou que “o Brasil não aceitará ser tratado como inimigo estratégico por motivos ideológicos”.