Por Antônio Diógenes – 19/09/2025
Unidade poderá beneficiar até 140 milhões de pessoas com tecnologia biológica contra arboviroses
Foi inaugurada nesta sexta-feira (19), em Curitiba (PR), a maior biofábrica de mosquitos do mundo, voltada à produção em larga escala de exemplares do Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia, um método comprovado de controle da dengue, zika e chikungunya. A iniciativa é resultado de uma cooperação técnica entre o Ministério da Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e o World Mosquito Program (WMP), com investimento público estimado em R$ 180 milhões.
A planta industrial, batizada de Wolbito do Brasil, possui capacidade para produzir até 100 milhões de ovos de mosquito por semana, os quais serão distribuídos gratuitamente em regiões urbanas com maior risco de surtos. O objetivo, segundo o governo, é alcançar cerca de 140 milhões de brasileiros até 2030, especialmente em áreas com histórico de alta incidência de arboviroses.
O método com Wolbachia atua impedindo que o mosquito transmita os vírus, sem o uso de pesticidas. A tecnologia, validada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tem demonstrado eficácia superior a 70% na redução de casos em cidades como Niterói (RJ) e Medellín (Colômbia), onde foi adotada em fases-piloto.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, ressaltou que a fábrica representa “uma mudança de paradigma no combate às epidemias urbanas”, e que a política será parte integrante do novo Plano Nacional de Controle Integrado de Arboviroses (PNCIA), previsto para ser apresentado ao Congresso ainda este mês.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil já registrou mais de 2,6 milhões de casos de dengue em 2025, um aumento de 47% em relação ao mesmo período do ano anterior. A taxa de mortalidade também subiu, ultrapassando 1.300 óbitos confirmados até agosto, o que torna esta a pior temporada da doença em mais de duas décadas.
A fábrica funcionará em sistema automatizado, com rastreamento genético dos lotes produzidos e protocolos de biosegurança monitorados por agências sanitárias. A distribuição será feita em parceria com secretarias estaduais e municipais de saúde, com prioridade para cidades acima de 100 mil habitantes com incidência superior à média nacional.
Especialistas apontam que a escala inédita da produção poderá posicionar o Brasil como exportador da tecnologia, sobretudo para países tropicais do Sudeste Asiático e da África Ocidental, regiões que compartilham desafios semelhantes no enfrentamento de arboviroses.
O modelo logístico da Wolbito também pode gerar benefícios indiretos, como a redução do uso de inseticidas tóxicos e menor sobrecarga nos serviços públicos de saúde, especialmente durante os períodos de verão e chuvas intensas.
Organizações como a Fiocruz e o WMP defendem que o projeto seja integrado a uma política pública de longo prazo, com garantia de financiamento federal, capacitação local e mecanismos transparentes de avaliação de impacto.
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